Há coisas no Brasil que ninguém entende. O país inteiro tem problemas urgentes — segurança, saúde, infraestrutura, corrupção — mas o governo resolveu mirar justamente em um dos poucos setores que funcionam: as APAEs, as Pestalozzi e tantas outras entidades e ONGs que realizam o mesmo trabalho extraordinário em favor das pessoas com deficiência.
Essas instituições são exemplos vivos de solidariedade, amor e eficiência. Nascidas do esforço de famílias e comunidades que se uniram para dar dignidade aos filhos com necessidades especiais, elas construíram ao longo de décadas um modelo que o Estado nunca conseguiu reproduzir. Com recursos escassos e trabalho voluntário, oferecem o que o poder público sempre prometeu, mas raramente entregou: educação, acolhimento e inclusão reais.
Agora, com um decreto frio e tecnocrático, o governo tenta “reorganizar” a educação especial, empurrando crianças e jovens com deficiências para escolas comuns — muitas delas sem estrutura, sem preparo e sem profissionais capacitados. Na prática, o discurso bonito da “inclusão plena” pode se transformar em exclusão disfarçada.
O que se propõe é acabar com o espaço seguro onde milhares de famílias encontraram amparo, tratamento e resultados concretos. Não é uma discussão teórica: é sobre a vida de pessoas que dependem dessas instituições todos os dias.
Ninguém discorda da importância da inclusão, mas é preciso lembrar que igualdade não é tratar todos do mesmo jeito, e sim oferecer o que cada um precisa para ter oportunidades reais. As APAEs, as Pestalozzi e tantas outras entidades sempre entenderam isso — e o fizeram com o coração e com competência.
O Brasil tem muitos setores que pedem reformas urgentes. Mexer nessas instituições, justamente onde as coisas funcionam, é um erro social e moral. Em vez de enfraquecer quem ajuda, o governo deveria fortalecer. Porque quem conhece o trabalho dessas entidades sabe: nelas, a palavra “inclusão” não é decreto — é prática.






