Uma denúncia grave envolvendo a 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras, realizada nesta terça-feira (25), em Brasília, está circulando nas redes sociais e foi destacada pelo Jornal Razão, de Santa Catarina, mas segue ignorada pela grande imprensa nacional.
Mulheres negras que saíram de Santa Catarina rumo à capital federal relatam que foram recebidas em condições que classificam como “indignas” e totalmente incompatíveis com o propósito de um evento que se apresenta como espaço de reparação histórica, luta por direitos e afirmação de dignidade.
“Fomos colocadas em estábulos”
De acordo com relatos, vídeos e imagens publicados nas redes sociais e reunidos pelo Jornal Razão, as participantes foram direcionadas para alojamentos improvisados em áreas da Granja do Torto, tradicionalmente usadas como baias e estábulos para cavalos.
Ao chegarem ao local, as mulheres teriam encontrado:
- Serragem espalhada no chão
- Estruturas típicas de cocheiras, com divisórias para animais
- Forte odor característico de estábulo
- Forração improvisada com lonas
As imagens e depoimentos levantam críticas diretas à organização nacional da Marcha e à logística contratada para receber as delegações vindas de vários estados.
Uma das mulheres gravou um vídeo em que desabafa:
“Este é o espaço ao qual foi designado para a Marcha Nacional das Mulheres Negras. Aqui é uma cocheira. Há serragem para esconder o cheiro. A gente sabe que, há menos de duas semanas, teve recepção aqui para venda de gado. Mulheres negras não podem ser tratadas assim.”
Outra participante reforçou o caráter simbólico da violência:
“Não marchamos para repetir a lógica colonial. Receber mulheres negras em estábulos é uma violência simbólica e material.”
O que foi prometido às delegações
Segundo as denunciantes, o cenário encontrado em Brasília contrasta com o que havia sido informado previamente às delegações estaduais: alojamentos adequados, preparados para acolher mulheres que viajariam longas distâncias para participar de um encontro de mobilização política, memória e reivindicação por dignidade.
Elas afirmam ter sido surpreendidas com o local de pernoite e apontam que delegações de outros estados também teriam sido destinadas a espaços semelhantes, o que indica que o problema não se restringiu ao grupo de Santa Catarina.
Organização fala em “logística comunicada”; denúncias contestam
A organização nacional da Marcha teria argumentado que houve “logística comunicada” e que o espaço estaria preparado para receber as participantes. As mulheres, porém, contestam essa versão, afirmam que não foram informadas de que ficariam em antigas baias de animais e denunciam que a limpeza do local teria sido feita às pressas, pouco antes da chegada das delegações.
Vídeos divulgados mostram, segundo as denunciantes, cavalos sendo retirados do local momentos antes da entrada das participantes. Elas também rejeitam a versão de que os animais estariam afastados do espaço há dois meses.
Silêncio da grande imprensa
Apesar da gravidade do conteúdo – que envolve racismo estrutural, tratamento degradante e possível desrespeito à dignidade humana de mulheres negras em um evento justamente voltado à sua valorização – o episódio não ganhou destaque nos principais veículos de imprensa do país até o momento.
A cobertura, por enquanto, se concentra em relatos independentes e na publicação do Jornal Razão, de Santa Catarina, que chamou a atenção para o caso e deu espaço às vozes das participantes que se recusam a aceitar, em silêncio, o que classificam como mais um capítulo da histórica desumanização dirigida a mulheres negras no Brasil.
As participantes cobram explicações públicas, responsabilização pela escolha do alojamento e respeito à dignidade de todas as mulheres que marcharam em Brasília.
Fonte: Jornal Razão (SC).






