A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou nesta sexta-feira (25) o acionamento da bandeira vermelha nível 2 para o mês de agosto. Em outras palavras: a conta de luz vai subir. O brasileiro vai pagar R$ 7,87 a mais para cada 100 kWh consumidos. É o equivalente a um novo imposto não votado, não discutido e inevitável — travestido de “mecanismo regulatório”.
Segundo a própria Aneel, a justificativa é a redução das chuvas e o consequente acionamento das termelétricas, mais caras e poluentes. Um clássico da ladainha energética nacional. Mas a pergunta que não cala: isso já não deveria estar previsto lá atrás, na hora do leilão que concedeu a geração e distribuição de energia?
Empresas do setor elétrico participaram de processos de licitação, venceram concorrência, assinaram contratos e sabiam exatamente o mercado que estavam entrando: um país tropical, de clima irregular, com histórico de crises hídricas cíclicas. Se o risco climático é previsível, por que o consumidor é sempre o escolhido para cobrir o “imprevisto”?
Na prática, essa bandeira vermelha não passa de um gatilho automático para manter os lucros intactos — mesmo quando tudo dá errado. E aqui entra o ponto mais revoltante: quantos outros empresários no Brasil têm esse privilégio?
O dono da padaria não pode repassar seus prejuízos porque choveu demais e o bairro alagou. O agricultor não tem gatilho tarifário quando a geada destrói a lavoura. O dono do mercadinho não tem adicional de “bandeira crise” quando o aluguel ou o combustível sobe. Eles vivem da instabilidade — e sobrevivem na marra.
O sistema de bandeiras tarifárias, que começou como um mecanismo de transparência, virou um instrumento de blindagem corporativa. Lucro garantido para o setor elétrico.
É hora de repensar esse modelo. Porque, do jeito que está, a conta sempre cai no colo do mesmo pagador: o povo.