A cena correu o Paraná nesta quinta-feira (7): em plena sala de aula de uma escola estadual em Ponta Grossa, um professor de 59 anos e um aluno de apenas 14 trocaram agressões físicas. O episódio, gravado pelas câmeras de segurança da Escola Professor José Gomes do Amaral, revela mais do que um momento de descontrole: expõe, com crudeza, o colapso silencioso da autoridade e do respeito dentro do ambiente escolar.
É evidente que não há justificativa para a atitude do professor. A função que ele exerce exige equilíbrio, preparo emocional e ética, especialmente diante de provocações ou situações desafiadoras. A Secretaria de Estado da Educação (Seed) agiu com a devida responsabilidade ao afastá-lo e abrir processo formal. O caso deve ser apurado com rigor e transparência.
Mas é necessário ir além da condenação imediata. Este episódio precisa ser um chamado à reflexão profunda. Porque, se de um lado está um professor que perdeu o controle, de outro está um aluno de 14 anos que respondeu com violência, em um ambiente que deveria ser de aprendizado e respeito mútuo. Que tipo de formação social e familiar leva a esse tipo de confronto?
O que poucos dizem — e muitos sentem na pele — é que o ambiente escolar há muito deixou de ser um espaço de autoridade legítima. Professores são agredidos verbal e fisicamente todos os dias. A disciplina é constantemente confundida com autoritarismo. E há um fenômeno recorrente: pais que, ao invés de corrigirem seus filhos, buscam justificar ou até encobrir atitudes agressivas. Criam-se jovens sem limites, sem filtros e, em muitos casos, sem noção clara das consequências dos seus atos.
O professor em questão — e esta é uma provocação incômoda, mas necessária — pode, ele próprio, ser o resultado de uma geração malformada. Será que este homem que não soube administrar uma provocação, não teria sido, em algum momento da sua juventude, um desses adolescentes criados sem noção de responsabilidade, agora diante da própria limitação emocional?
Vivemos tempos novos? Ou tempos tenebrosos? Uma era onde a autoridade é desafiada como regra, onde a educação formal é desacreditada e onde qualquer limite soa como opressão. O caso de Ponta Grossa é grave, mas é também um sintoma. E sintomas ignorados tendem a se agravar.
É hora de a sociedade se debruçar sobre esse problema com seriedade. Educação se faz com limites, respeito e responsabilidade compartilhada entre escola, família e comunidade. Se isso falha, formamos adultos que não sabem lidar nem com um gesto, nem com uma palavra, quanto mais com a vida.