O Setembro Amarelo é uma das campanhas de saúde mais importantes do mundo. Criada no Brasil em 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), a iniciativa tem como lema neste ano: “Se precisar, peça ajuda!”. O recado é claro — pedir ajuda não é fraqueza, é sobrevivência.
Os números impressionam e assustam: a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 700 mil pessoas se suicidem por ano no mundo. No Brasil, a média é de 14 mil mortes anuais, ou seja, 38 vidas perdidas todos os dias. E há um dado que raramente é debatido com a seriedade que merece: a grande maioria das vítimas é formada por homens.
Homens que sofrem em silêncio. Homens que, muitas vezes, são ensinados desde cedo a não chorar, não reclamar e “aguentar firme”. Homens que, em alguns casos, também são vítimas de relacionamentos abusivos, mas que encontram poucas campanhas ou espaços de acolhimento para falar disso sem serem ridicularizados.
Nem sempre o motivo é o casamento ou as companheiras, claro. As causas são múltiplas: transtornos mentais não tratados, vícios, pressões sociais, fracassos profissionais, isolamento e, sim, relações tóxicas. Mas negar que essas situações também pesam na balança é fechar os olhos para parte da realidade.
A história do filósofo Sócrates ilustra bem esse ponto. Considerado o pai da filosofia ocidental, o homem que ensinou Platão e abriu caminho para Aristóteles e toda a civilização, teve em casa um ambiente turbulento. Casado com Xanthippe, descrita por seus contemporâneos como uma mulher difícil e agressiva, Sócrates era alvo de humilhações, insultos e até agressões públicas. Se nem o homem mais sábio do mundo conseguiu encontrar paz no próprio lar, o que dizer dos homens comuns, que não têm nem voz nem escudo contra os ventos da vida?
A lição que fica é dura: até os mais fortes se quebram quando a casa está quebrada. Uma relação abusiva, seja para homens ou mulheres, pode ser um gatilho devastador. O lar deveria ser porto seguro, mas quando se torna campo de batalha, mina a saúde mental de qualquer um.
Por isso, o Setembro Amarelo precisa ser lembrado em sua essência: ninguém deve sofrer sozinho. A campanha salva vidas porque quebra o silêncio, combate o estigma e mostra que pedir ajuda é possível e necessário.
Se você, homem ou mulher, sente que não aguenta mais, lembre-se do lema: “Se precisar, peça ajuda!”. A sabedoria não está em suportar o insuportável — está em reconhecer que sua vida vale mais do que qualquer batalha perdida.📞 No Brasil, o CVV (Centro de Valorização da Vida) oferece apoio 24 horas pelo número 188.