O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu vista e interrompeu nesta terça-feira (8/10) o julgamento sobre a constitucionalidade da Lei nº 13.452/2017 — a que reduziu o Parque Nacional do Jamanxim, no Pará, para permitir a construção da Ferrogrão, uma ferrovia de quase 1.000 km ligando Sinop (MT) a Itaituba (PA). O projeto, essencial para o escoamento da produção de grãos do Centro-Oeste, está parado há anos, vítima do labirinto burocrático e ideológico que se tornou o Brasil.
A ação foi movida pelo PSOL, que alega que a mudança no parque não poderia ter sido feita por medida provisória. Enquanto isso, o governo federal tenta se equilibrar entre os ministros do Supremo e a realidade do país. Fontes em Brasília confirmam que, qualquer que seja o resultado no STF, o Planalto já traça uma estratégia para tirar a Ferrogrão do papel — e isso foi tema de um encontro entre Lula e o ministro dos Transportes, Renan Filho, na última terça-feira (7).
Na primeira etapa do julgamento, a própria Advocacia-Geral da União (AGU) reconheceu que a lei teria problemas de origem, mas defendeu a viabilidade do projeto. O traçado da ferrovia foi redesenhado para acompanhar a BR-163, o que reduziria significativamente os impactos ambientais. Ainda assim, o “tribunal da militância ambiental” entrou em campo. Pesquisadores da USP, UFMG e integrantes de ONGs como o Observatório do Clima e o Instituto Socioambiental (ISA) divulgaram pareceres cheios de lacunas técnicas, mas recheados de ideologia, apontando riscos de desmatamento e outros impactos que, na prática, existem mais no papel do que no chão.
O problema é que Brasília está a mil quilômetros da roça e a anos-luz da realidade. Lá, quem nunca plantou um pé de milho se sente à vontade para decidir sobre quem carrega o país nas costas. São doutores em “justiça socioambiental” que jamais pisaram num curral ou numa estrada de chão. São especialistas em tudo que não funciona.
O produtor rural, que acorda antes do sol e dorme depois dele, é tratado como vilão. O empresário que investe é suspeito. O caminhoneiro que trabalha é explorado. Já o burocrata que atrasa tudo é chamado de “servidor público”.
E quando alguém tenta construir, gerar emprego e riqueza, aparece um parecer de 200 páginas, com palavras bonitas e resultados desastrosos. É o retrato do Brasil: um país que vive do agronegócio, mas tem vergonha dele. Que pune quem produz e recompensa quem atrapalha.
Enquanto o Supremo “pede vista”, o Brasil perde o trem — literalmente. O trem do progresso, da competitividade e da independência logística. Um país que fala em futuro verde, mas deixa seu povo no vermelho.
No fim das contas, a Ferrogrão é mais que uma ferrovia: é um teste para saber se o Brasil ainda tem coragem de andar pra frente — ou se vai continuar parado, esperando o aval de quem nunca saiu do gabinete.
Por Cleomar Diesel