Com a entrada em vigor, nesta quarta-feira(6), do tarifaço, o governo brasileiro protagoniza mais uma encenação típica de quem tenta vender fumaça em vez de soluções concretas. Agora, repentinamente, o Planalto quer agradar Washington oferecendo terras raras e outras riquezas minerais, como se a pressão externa fosse meramente econômica — quando é, notoriamente, política.
É curioso (ou suspeito) o entusiasmo com que setores da imprensa, como o jornal O Globo, abordam o tema. A publicação fez questão de destacar o suposto interesse americano nos recursos brasileiros, destacando as declarações do encarregado de negócios dos EUA, Gabriel Escobar. O diplomata teria manifestado interesse em ampliar o acesso a minerais como nióbio e terras raras — insumos essenciais para indústrias estratégicas. A narrativa sugere que o Brasil poderia estar diante de uma grande oportunidade.
E é verdade: o Brasil é uma potência mineral. Possui a maior reserva de nióbio do mundo, a segunda maior de grafite e terras-raras, e a terceira maior de níquel. Mas transformar riqueza em prosperidade depende de algo que o atual governo não possui: capacidade técnica, política e, sobretudo, moral.
Fica evidente que o aceno brasileiro não é parte de uma política mineral bem estruturada ou de uma estratégia soberana. Trata-se, isso sim, de mais uma tentativa apressada de parecer relevante no tabuleiro internacional, enquanto o governo sofre desgastes internos, desconfiança popular e questionamentos externos quanto ao respeito às instituições e à liberdade democrática.
Os americanos, por sua vez, não são ingênuos. Sabem exatamente o que querem — e não é um acordo de fachada. Para Washington, a urgência está em reduzir sua dependência da China, que domina o refino de 19 dos 20 minerais críticos do mundo. A Casa Branca busca fornecedores confiáveis e governos estáveis. O Brasil, neste momento, não oferece nenhuma dessas garantias.
Enquanto isso, o governo finge não perceber que a maior preocupação dos EUA com o Brasil está na crescente instabilidade institucional. Se há um entrave real nas relações bilaterais, ele não está no subsolo mineral, mas na superfície política.
O vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin tenta dar verniz técnico à movimentação, falando em “protagonismo” na relação bilateral e citando propostas da AmCham Brasil e da U.S. Chamber of Commerce. Mas nenhuma proposta caminha quando a confiança entre os países está abalada por questões maiores do que o alumínio ou o cobre.
Em meio a isso tudo, vale lembrar: o Brasil, de fato, precisa explorar suas riquezas com responsabilidade, soberania e visão de futuro. Mas essa transformação exige planejamento de longo prazo, estabilidade jurídica, segurança institucional e, principalmente, um governo com credibilidade.
Não é o que temos hoje.
O que vemos é mais uma peça mal encenada por um governo que perdeu a conexão com a realidade, tentando empurrar à população a ilusão de que grandes acordos internacionais estão a caminho — quando, na verdade, sequer consegue administrar com competência o presente.
Enquanto isso, o Brasil segue rico debaixo da terra, e pobre de ideias e de governo na superfície.
Por Cleomar Diesel