Dia do Idoso? Vamos combinar: idoso é só o jovem que deu certo. Se alguém ainda chama essa turma de “ultrapassada”, é porque não entendeu que tudo o que existe hoje começou com quem rebobinava a história no dedo.
Somos — ou convivemos com — a geração que sobreviveu ao mimeógrafo, ao cheiro de álcool que deixava a gente mais alegre que recreio com merenda de graça. Rebobinar fita cassete com caneta Bic era nosso esporte olímpico. Delay, para nós, era esperar a fita voltar pro lado A — e ainda torcer pra não enroscar.
Telefone móvel? Só o morador! O aparelho ficava preso na parede e quem se movia éramos nós. Televisão tinha três canais: dois de chuvisco e um com novela. Controle remoto era o filho: “Menino, muda pra mim antes que eu vá aí!”
Internet? Era nome de personagem de novela antiga: “Inter Ney, retirante que foi pra capital tentar a vida”. Mensagem era carta — com selo lambido e bactéria de brinde. Computador era ficção científica, e quem mexesse num teclado parecia astronauta.
Na escola, trabalho era no caderno, e papel carbono era impressora de última geração. A gente compartilhava o mesmo copo e bebia água da mangueira como quem bebe da fonte da juventude. Hoje, o perigo é glúten e lactose; na nossa época, era manga com leite.
Sobrevivemos ao fio desencapado do chuveiro, ao Bombril na antena e à TV que dava choque se você encostasse sem chinelo. Vimos o mundo trocar o lampião pela energia solar, o cavalo pelo carro elétrico, a carta pelo chatbot e a discoteca pelo algoritmo.
Fomos a geração que assoprava cartucho de videogame, comprava ficha de orelhão, pagava ônibus com trocador. Abríamos garrafa com isqueiro, consertávamos curto-circuito com fita isolante e reconhecíamos o tio maluco pelo cheiro de gasolina na garrafa de tubaína.
Assistimos a avó benzer o micro-ondas e o homem pisar na Lua sem Waze. Testemunhamos inflação, impeachment, chacrete, Orkut, recruta Zero, radinho de pilha e saudade sem Wi-Fi.
E ainda dizem que somos ultrapassados? Ora, somos os reis da gambiarra, os faraós da resistência, os engenheiros da sobrevivência, a elite internacional do improviso. A última geração que viveu sem tecnologia e a primeira que aprendeu a usá-la sem manual.
Se isso não é juventude bem-sucedida, então podem trazer de volta o mimeógrafo — pelo menos o cheiro era bom.
Feliz Dia do Idoso
Ou, como preferimos chamar:
Dia do Jovem que Deu Certo!