A praia, num fim de tarde cinzento, é palco de um espetáculo curioso. O vento sopra gelado, o céu se cobre de nuvens pesadas e o mar parece mais bravo que acolhedor. Mas ali, bem diante dos olhos, convivem dois mundos diferentes.
De um lado, pessoas mergulham com entusiasmo nas águas frias, como se estivessem diante de um verão. Riem, brincam, desafiam o corpo a suportar aquilo que para muitos seria impossível. De outro, caminhantes passam de casaco fechado, passos firmes na areia, protegendo-se do mesmo vento que outros parecem ignorar.
É nesse contraste que mora a beleza: a praia não impõe um único jeito de senti-la. Cada um reage ao mar conforme sua natureza, conforme sua pele, sua coragem, seu humor ou até suas memórias. O que para uns é gelo, para outros é convite. O que para uns é desconforto, para outros é liberdade.
A vida é isso: diferentes modos de experimentar o mesmo cenário. A mesma realidade se desdobra em inúmeras percepções. Não há certo nem errado. Há quem se aqueça no frio e quem sinta frio no calor.
Se aprendêssemos a enxergar essa diversidade com menos estranheza e mais respeito, talvez descobríssemos que o mundo é, como a praia, um lugar de infinitas experiências. Conviver não é tornar todos iguais — é aceitar que cada um sente o vento de um jeito.