Hoje, enquanto caminhava sem pressa por uma calçada comum, dessas que parecem todas iguais, algo quebrou minha distração. Entre o concreto frio e a grama aparada, lá estava ela: uma flor. Pequena, improvável, quase teimosa. Não era para estar ali. O chão era duro, a raiz rasa, e o mundo ao redor seguia apressado, sem espaço para delicadezas.
A grama que cerca, forte e dominante, certamente já tentou sufocá-la. Alguém deve ter passado por cima, a lâmina de uma roçadeira já deve ter lhe roubado as pétalas mais de uma vez. E mesmo assim, ela venceu o esquecimento, a pisada, a poda. Venceu a lógica. Agora, ergue a cor como quem anuncia, sem pedir licença: milagre também brota em solo proibido.

Naquele instante, a natureza falou mais alto do que qualquer manchete, discurso ou queixa. Pensei: se uma flor escolhe nascer onde só havia espaço para o não, por que nós não poderíamos? Somos feitos do mesmo sopro, da mesma poeira das estrelas, obra do mesmo Criador. Assim como ela, fomos criados para resistir — e resistir com beleza.
Resiliência não é apenas suportar pancada. É fazer da cicatriz uma raiz mais funda, da adversidade um palco, da poda uma chance de reflorir por outro ângulo. É permanecer quando tudo diz que não faz sentido.
E o Brasil… ah, o Brasil é essa flor. Já foi pisado, podado, sufocado por erva daninha fantasiada de autoridade. Já tentaram arrancar suas cores, dividir suas raízes e secar sua esperança. Mas a semente do bem segue viva, silenciosa, persistente, crescendo onde ninguém vê, preparando-se para romper o chão duro da descrença.
E quando brotar — porque vai brotar — não haverá mão que detenha, nem discurso que desbote.
Porque, no fim das contas, a única coisa realmente impossível… é aquilo que a gente desiste de tentar.
Por Cleomar Diesel, num domingo maravilhoso






