Fantástico destacou o caso neste domingo (13). Polícia investiga outros episódios de maus-tratos na escola particular de Araucária, onde o menino foi encontrado amarrado com fita crepe e cinto.
O caso de uma criança autista de quatro anos amarrada dentro do banheiro de uma escola particular em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, ganhou repercussão nacional e foi destaque na edição deste domingo (13) do programa Fantástico, da TV Globo. A denúncia resultou no indiciamento de uma funcionária por tortura e desencadeou novas investigações sobre possíveis maus-tratos a outras crianças.
O episódio ocorreu na Escola Particular Shanduca, na última segunda-feira (7), e só veio à tona após uma funcionária da própria instituição fotografar o menino preso a uma cadeira com fita crepe e um cinto, dentro do banheiro. Ela enviou a imagem ao vereador Leandro Andrade (Solidariedade), que acionou a Guarda Municipal e o Conselho Tutelar.
Ao chegar ao local, os agentes encontraram a criança — que é autista não verbal — batendo os pezinhos no chão, num gesto que foi interpretado como um pedido de socorro. A mãe do menino chegou minutos depois, em estado de choque. “Eles prenderam a roupinha dele para fora assim, colocaram tipo um pano, uma faixa, e prenderam com fita crepe na cadeira, as duas mãozinhas e um cinto no corpinho dele”, relatou Mirian Ambrozio, mãe do garoto.
Cadeira adaptada e suspeita de prática recorrente
A conselheira tutelar e o pai da criança, Augusto Ambrozio, afirmaram que a cadeira utilizada parecia já ter faixas e cintos fixados, indicando que o método de contenção poderia ser comum no local.
Outras denúncias surgiram após o flagrante
Com a repercussão do caso, outras famílias e funcionárias começaram a relatar situações semelhantes envolvendo alunos da escola. Um pai, Bruno Incott, recebeu uma foto de sua filha de três anos, também amarrada em uma cadeira. A imagem teria sido feita dois meses antes.
Funcionárias entregaram ainda áudios de um grupo interno da escola, em que a diretora e proprietária, Danieli Alexandra Zimermann, admite saber da prática de contenção e orienta que, se necessário, isso fosse feito em outro ambiente, não no banheiro.
Curiosamente, nas redes sociais, a diretora costumava publicar vídeos sobre educação inclusiva, dizendo que crianças autistas “precisam de amor e carinho, mais nada”.
Funcionária indiciada por tortura
A funcionária que amarrou o menino foi identificada como Sara Maria Erdeman Correia, de 18 anos, sem formação pedagógica. Ela foi presa em flagrante e liberada posteriormente, mas o Ministério Público já solicitou sua prisão preventiva. Sara disse que o menino estava agitado e que teria recebido autorização da estagiária Gabriela Fernandes para contê-lo.
A defesa de Gabriela afirmou que ela não se manifestará por conta de ameaças. As defesas de Sara e da diretora Danieli não retornaram os contatos da imprensa.
Diretora alega afastamento, mas delegado contesta
Em pronunciamento nas redes sociais, a diretora Danieli Zimermann alegou estar afastada da gestão escolar por motivos de saúde no momento do ocorrido. No entanto, o delegado responsável pelo caso, Erineu Portes, afirmou que há fortes indícios de que a prática era recorrente e de que a direção tinha conhecimento. Ele revelou que, inclusive, há uma denúncia anterior contra a própria diretora, feita em 2023, por agressão a uma criança.
Escola é investigada por irregularidades
Além dos maus-tratos, a investigação revelou que a escola apresentava alta rotatividade de funcionários, com pessoas sem registro em carteira, sem formação e até menores de idade exercendo funções de cuidado com crianças.
O caso segue em investigação pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Paraná. O Conselho Tutelar também acompanha de perto a situação das demais crianças matriculadas na unidade, e a possibilidade de interdição da escola está sendo avaliada.
Fonte: Fantástico/G1