O litoral do Paraná conviveu em julho com uma estatística que parece fria, mas carrega um alerta: 314 tartarugas-verdes foram resgatadas em apenas um mês — e apenas cinco estavam vivas. O dado, levantado pelo Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) e executado pelo Laboratório de Ecologia e Conservação (LEC/UFPR), representa um aumento de 503% em relação ao mesmo período do ano passado.
À primeira vista, alguém desatento poderia interpretar como “mais tartarugas circulando pelo litoral”. Mas a realidade é muito mais dura: o que cresce não é a população saudável, e sim o número de vítimas da ação humana.
O trabalho do LEC, digno de reconhecimento, é diário e exaustivo. Técnicos percorrem cerca de 100 km de praias em busca de animais debilitados, tentando oferecer uma segunda chance à vida marinha. A cena de uma tartaruga recuperada voltando ao mar é um espetáculo emocionante, mas está longe de ser regra. Na maioria das vezes, a história termina na areia — sem aplausos, sem esperança.
Entre as causas, o diagnóstico é claro: plástico ingerido, redes de pesca abandonadas e lixo de todo tipo. Sacolas e garrafas transformam o estômago das tartarugas em armadilhas, provocando gases que as impedem de mergulhar. Presas à superfície, tornam-se alvos fáceis para embarcações. O que deveria ser um mergulho tranquilo acaba em colisão fatal.
O dado de julho não é só um registro científico; é um espelho da nossa negligência coletiva. Não basta culpar o turista que deixa o copinho na areia. O lixo mal descartado em casa, que não chega ao destino correto, também vai parar no oceano. O veneno que jogamos hoje retorna em forma de manchete triste amanhã.
Se o litoral do Paraná sempre foi refúgio de descanso e beleza natural, precisamos decidir se queremos preservá-lo como tal ou transformá-lo em cemitério estatístico da vida marinha.
No fim das contas, o salto de 503% não é só uma curva de gráfico: é uma chamada à consciência. E a pergunta que fica é simples e incômoda: quantas tartarugas terão que morrer para a gente aprender?