Todos sabiam que a direita — ou a oposição ao lulismo — dificilmente marchará unida rumo a 2026 no primeiro turno. Mas, mesmo assim, o anúncio de Flávio Bolsonaro como pré-candidato à Presidência pegou muita gente de surpresa. E não foi pouca gente.
Isso porque, entre os nomes do clã, quem vinha ensaiando passos mais nítidos era Eduardo Bolsonaro, além da própria Michelle Bolsonaro, que hoje tem muito mais apelo popular do que Flávio. Em política, personalidade própria pesa, e muito. E na direita, onde a transferência de votos é limitada e o eleitor é altamente crítico, depender apenas do sobrenome “Bolsonaro” já não é garantia de eleição — ainda que o ex-presidente continue sendo o maior líder da direita no país.
Ninguém questiona o direito de Flávio se candidatar. O ponto central é outro: a multiplicação de candidaturas pode comprometer a unidade necessária no segundo turno.
Neste episódio, algumas peças chamam atenção:
1. A insistência do clã Bolsonaro
O movimento pode ser apenas um teste, uma espécie de “balão de ensaio” para dar visibilidade ao nome de Flávio, que encerra seu mandato de senador exatamente em 2026. Mas a jogada gerou reações imediatas — e nem todas positivas.
2. Rejeição até entre aliados
Silas Malafaia, um dos principais aliados e defensores do ex-presidente, criticou publicamente o que chamou de “amadorismo da direita”. Mesmo sem citar nomes, o recado foi direto. Há claros sinais de resistência, inclusive entre os que sempre estiveram na linha de frente do bolsonarismo.
3. A dança das cadeiras entre Tarcísio e Ratinho
Com a possibilidade cada vez mais concreta de Tarcísio de Freitas recuar e buscar a reeleição em São Paulo — algo que fortalece sua configuração estratégica — abre-se uma avenida política para outro nome: Ratinho Junior.
O governador do Paraná tem um currículo administrativo robusto e registra índices de aprovação que beiram os 90%. É visto como gestor eficiente, articulador moderado e um político com trânsito entre direita, centro e setor produtivo. Não à toa, começa a surgir como a bola da vez entre os que buscam uma candidatura competitiva, mas sem o peso das guerras internas.
O jogo de 2026 começa a ser desenhado, ainda que aos poucos. O anúncio de Flávio Bolsonaro não apenas fragmentou o campo oposicionista — ele também expôs quem tem força, quem está testando terreno e quem pode, de fato, despontar como candidatura viável.
E, se há algo que a direita não pode perder, é justamente a capacidade de se unir quando o segundo turno chegar. Porque, no final, eleição não se vence com impulsos familiares — mas com estratégia, base e nome capaz de somar.






