Ao convidar a galera do Lula para inaugurar o SBT News, o SBT descobriu — tarde demais — que o Baú da Felicidade não resiste a choque ideológico. O que antes era de metal reluzente virou caixa de papelão molhada, dessas que desmancham na primeira garoa de Brasília.
As filhas de Silvio Santos aprenderam da forma mais cruel que televisão é política. Não tem escapatória. Dá para fingir neutralidade em comercial de margarina, mas não em inauguração com Lula, ministro, STF e fotógrafo oficial. Política, quando não é compreendida, cobra com juros, correção monetária e exposição pública. Resolveram brincar de “institucional” e montaram um bingo de trapalhadas digno do Topa Tudo por Dinheiro: cancela Flávio Bolsonaro, descancela Flávio Bolsonaro, confunde senador com atração fixa, cancela o Zezé Di Camargo, compra briga com o sertanejo, irrita a direita, não encanta a esquerda e ainda consegue parecer amadora para quem só queria assistir televisão. Um feito raro. Quase conceitual.
O SBT informou, depois desinformou, explicou mal, voltou atrás e deixou no ar a sensação mais tóxica que uma emissora pode passar: ninguém manda em ninguém. Em televisão, isso é pior do que ibope baixo.
Zezé Di Camargo, sentindo-se traído pela “TV da família brasileira”, fez o que qualquer artista ressentido faz: saiu atirando para todos os lados. Conseguiu seu objetivo. O especial de Natal foi parar no arquivo morto. Nada mais simbólico. No SBT, o Natal acabou antes da ceia. Nem o peru escapou da tesoura.
Enquanto isso, Lula e Alexandre de Moraes perceberam, talvez com certo deleite, que a simples presença das mais altas autoridades do país foi suficiente para desmontar a emissora por dentro.
O apresentador Ratinho ainda não falou nada. Mas quem conhece o Ratinho consegue ouvir perfeitamente a cena nos bastidores: um palavrão aqui, outro acolá, um clássico “quem manda nessa p***a?” ecoando pelos corredores do SBT. E, sejamos honestos, talvez seja exatamente isso que esteja faltando: alguém batendo na mesa, lembrando que televisão sem comando vira circo sem apresentador — e, pior, sem palhaço definido.
Aguardemos os próximos capítulos. No SBT atual, até a reprise é inédita.
E fica a pergunta que não quer calar: você não acha que já passou da hora do Ratinho comprar o SBT?
Por Cleomar Diesel






