Em tempos de desconfiança generalizada com o uso de dinheiro público e de proximidades incômodas, o governador Ratinho Junior parece ter acionado o modo “prudência máxima” mesmo a quilômetros de distância. Mesmo de férias com a família no continente asiático, a notícia de que o Procurador-Geral do Estado, Luciano Borges dos Santos, e mais dois procuradores do Paraná estariam prestes a embarcar para Lisboa, não soou bem — e a resposta foi imediata: malas desfeitas e viagem cancelada.
A participação dos procuradores no XIII Fórum Jurídico de Lisboa — mais conhecido nos bastidores como “Gilmarpalooza”, por ser organizado pelo ministro Gilmar Mendes (STF) — havia sido autorizada pelo governador em exercício, Darci Piana. No entanto, o timing e o destino da viagem geraram desconforto dentro do próprio Palácio Iguaçu. Oficialmente, o cancelamento partiu dos próprios procuradores. De acordo com publicação do Blog Politicamente, que teria informações de fontes do Palácio, que o sinal vermelho teria vindo direto do topo, com aval do titular do governo, que mesmo em recesso, não tirou férias da vigilância institucional.
O tal “Gilmarpalooza” reúne um seleto grupo de ministros do STF, STJ e TCU — e vem sendo alvo de duras críticas justamente por parecer menos um fórum acadêmico e mais um festival jurídico-estratégico, onde discursos e cafés podem influenciar mais que votos fundamentados. Até alguns ministros do Supremo têm torcido o nariz para o evento.
Ratinho Junior, ciente da repercussão negativa que poderia se abater sobre sua gestão — especialmente num momento em que a imagem pública é um ativo de alto valor político — optou pelo recuo estratégico.
No fim das contas, a lição é clara. Não basta parecer sério — é preciso parecer e evitar qualquer chance de parecer o contrário. Ratinho Junior, ao que parece, está afinado com esse novo manual da boa gestão pública. Melhor um constrangimento evitado agora do que uma crise explicada depois.