O Keytruda é um medicamento injetável de altíssimo custo, usado no tratamento de diversos tipos de câncer — entre eles, melanoma, pulmão, cabeça e pescoço, esôfago e linfoma de Hodgkin clássico. Sua eficácia está respaldada em estudos clínicos rigorosos, e cada dose pode representar dias, meses ou até anos de vida a mais para quem luta contra a doença. Colocar em circulação versões falsificadas, sem registro sanitário e sem qualquer garantia de eficácia, é jogar roleta-russa com pacientes que já vivem no limite.
A Anvisa, em conjunto com a Secretaria de Saúde do Ceará e a Vigilância Sanitária Municipal de Fortaleza, deflagrou uma operação para desarticular a rede criminosa. Os fiscais encontraram caixas de medicamentos sem registro no Brasil, embaladas em inglês, o que levanta indícios de falsificação internacional. Notas fiscais comprovavam que tais produtos foram efetivamente comercializados, e até mesmo o acesso à distribuidora precisou ser garantido por meio de mandado judicial, após tentativa de obstrução por parte de funcionários.
Aqui, cabe uma reflexão dura: falsificar medicamentos contra o câncer não é apenas crime econômico, é um atentado contra a vida. E se a lei já prevê a falsificação de medicamentos como crime hediondo, é preciso que a Justiça seja implacável. Penas de 10 a 15 anos de prisão ainda parecem pequenas diante da dimensão do sofrimento causado.
Imagine um paciente em tratamento, confiando que cada injeção caríssima pode lhe dar mais uma chance, descobrir que, na verdade, recebeu apenas uma fraude. Esse tipo de prática não pode ser tratado como mera irregularidade comercial; é um crime contra a dignidade humana.
No Brasil, onde tantas famílias se endividam e recorrem a vaquinhas para pagar tratamentos oncológicos, a falsificação de medicamentos é mais do que covardia: é um ato desumano que deveria estar no mesmo patamar moral de crimes contra a vida.
Não é exagero dizer: quem lucra com a dor alheia vendendo remédio falsificado, especialmente contra doenças graves como o câncer, não merece apenas prisão. Merece ser lembrado como exemplo de até onde a ganância pode destruir a essência do que é ser humano