Por mais surreal que pareça, o amor, quando combinado com a solidão e a internet, pode ser um prato cheio — para golpistas.
“Eu vou casar com o Gabriel Pasa”, disse, com brilho nos olhos e coração nas nuvens, uma aposentada de 68 anos de São Borja (RS). Alianças compradas, vestido escolhido, convites mentalmente enviados. Só faltava o noivo… que nunca existiu.
Ou melhor: o noivo até existe, mas em outro endereço, outra vida — e com outra esposa. Gabriel Pasa, cantor paranaense queridinho da terceira idade, virou involuntário protagonista de uma série de farsas amorosas. Não que ele esteja distribuindo juras de amor em DM para senhoras carentes, mas sim porque golpistas se apropriaram de sua imagem para enganar fãs vulneráveis. E com sucesso preocupante.
A idosa de São Borja só se deu conta do golpe quando foi confrontada com o verdadeiro Pasa, em uma chamada de vídeo organizada pela imprensa. Ainda assim, relutou. Amor de internet é bicho teimoso. Só depois de ouvir um gentil “sou casado há muitos anos” do próprio cantor, caiu a ficha: “Acho que caí num golpe.”
E não para por aí: no Paraná, outra senhora, essa de 69 anos, caiu numa história ainda mais interplanetária. Acreditou que vivia um romance secreto com Elon Musk (sim, o bilionário da Tesla, dos foguetes e das teorias de IA que dominam o mundo). Resultado: perdeu mais de R$ 150 mil. E Musk nem mandou um foguete de consolo.
O amor na terceira idade é lindo — mas precisa de antivírus.
A situação é, ao mesmo tempo, cômica e trágica. Por um lado, é difícil não rir do absurdo — alianças com famosos, casamentos imaginários, promessas de amor eterno por WhatsApp. Mas, por outro, o problema é sério e crescente: os idosos estão cada vez mais conectados e, por isso mesmo, cada vez mais vulneráveis. Muitos vivem isolados, carentes, com pouca supervisão dos filhos ou familiares. Isso faz deles alvos ideais para os chamados golpes do amor — que, de românticos, só têm a capa.
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul já está investigando os perfis falsos que se passam por Gabriel Pasa. A Meta (dona do Facebook e WhatsApp) soltou a de sempre: que “está aprimorando tecnologias” — mas parece que os golpistas andam sempre duas atualizações à frente.
Enquanto isso, fica o alerta para todos nós: precisamos falar mais com nossos pais, avós, tios. A solidão não pode ser terceirizada para a internet. E amor, meus amigos, ainda que virtual, precisa de provas reais — e de um pouco mais de desconfiança e menos emojis apaixonados.
Como disse o verdadeiro Gabriel Pasa: “Esse amor pode continuar, mas só como fã”. E sem Pix, por favor.






