“Abandono de animais: crime que revela mais sobre o dono do que sobre o bicho”
Na tarde de sexta-feira, 3, a Delegacia de Proteção Animal de Joinville apreendeu um carro utilizado em um caso revoltante: o abandono de uma cachorra no bairro Itinga, ocorrido no início de setembro. O responsável, um homem de 58 anos, não apenas se desfez do animal que estava sob seus cuidados havia oito meses, como também tentou atropelar as pessoas que presenciaram a cena e ousaram protestar contra a covardia. Resultado: agora responderá por maus-tratos a animal doméstico e também por crimes de trânsito.
Se a cena choca, mais ainda choca a naturalidade com que certos indivíduos tratam a vida animal como se fosse objeto descartável. Abandonar um bicho não é só falta de compaixão: é crime, e um crime que escancara a incapacidade de alguns de assumir as próprias responsabilidades. Quando alguém adota um cão ou gato, não está pegando um enfeite ou um brinquedo; está acolhendo uma vida que depende inteiramente de cuidados, carinho e dignidade.
A cachorra, que segue desaparecida e procurada pelo Centro de Bem-Estar Animal de Joinville, simboliza neste caso muito mais do que apenas uma vítima: ela representa milhares de outros animais largados à própria sorte todos os anos, fruto da irresponsabilidade e do egoísmo humanos.
É positivo que as autoridades estejam agindo com firmeza — apreendendo veículos, responsabilizando criminalmente e investigando esses casos. Mas é igualmente urgente que a sociedade mude de postura. Quem não tem condições de cuidar, que não adote. Quem testemunha maus-tratos, que denuncie. A vida animal não pode continuar sendo tratada como algo supérfluo, e cada ato de abandono deve ser lembrado pelo que realmente é: uma covardia travestida de omissão.
O destino dessa cachorra ainda é incerto, mas uma certeza permanece: quem abandona não apenas trai um animal, trai também a sua própria humanidade.