Vivemos tempos em que a linha entre vida pública e vida privada já não é tênue: simplesmente desapareceu. O caso mais recente vem do Paraná e parece até roteiro de uma paródia mal feita, mas é real e está sob investigação: um policial militar aceitou ser filmado mantendo relações sexuais com uma mulher, em plena viatura da PM, com o marido dela assistindo de camarote.
Segundo a própria protagonista feminina do vídeo, a cena foi gravada com o consentimento do agente e publicada em um site adulto para venda a seus seguidores. Ou seja, não foi descuido, foi negócio. A farda virou figurino, a viatura virou cenário e o sexo virou produto — embalado para consumo instantâneo na prateleira da internet.
É impossível não rir do surrealismo da situação: uma abordagem que deveria durar menos de um minuto transformou-se em um filme de menos de um minuto, mas com uma repercussão que já dura dias. A Diretoria de Inteligência (DINT) e a Corregedoria da PM agora tentam entender como a corporação, símbolo de autoridade, disciplina e ordem, virou protagonista de um reality show sexual.
Mas passada a gargalhada inicial, fica a preocupação. Que tempos são esses em que o símbolo da segurança pública vira fetiche de conteúdo pago? Que sociedade é essa em que a viatura — comprada com dinheiro do contribuinte — serve de tripé para gravações eróticas?
Não se trata aqui de moralismo, mas de bom senso. O que deveria ser instrumento de trabalho para proteger cidadãos foi transformado em adereço de entretenimento adulto. Se a cena fosse apenas na vida particular, ninguém teria nada a ver com isso. Mas quando envolve farda, viatura e a própria imagem da corporação, o caso deixa de ser “privado” e passa a ser de interesse público.
Nesta semana, a investigação promete trazer novidades. Enquanto isso, o vídeo segue circulando pelas redes, alimentando piadas, memes e indignações. O episódio escancara a estranha era em que vivemos: não basta viver, é preciso expor. Não basta expor, é preciso vender. Até que ponto chegaremos?